Os 60 anos de Mary Poppins

 



Seis décadas encantando e influenciando gerações. Poucos filmes conseguem o feito. “Mary Poppins”, musical idealizado pelo gênio Walt Disney, completa 60 anos em 2024. Estreou em 27 de agosto de 1964 no Chinese Theatre de Los Angeles e, dois dias depois, em Nova York. Vencedor de cinco estatuetas no Oscar, inclusive Melhor Atriz para a então novata no cinema, mas de longa e respeitada carreira nos palcos, Julie Andrews, o filme tem gerado celebrações ao redor do mundo. Houve uma exibição especial do musical, ano passado, no American Film Institute, que o coloca no sexto lugar na sua lista dos 25 melhores da hisstória no gênero.

”Mary Poppins’ é um fenômeno. No ano em que foi lançado superou a bilheteria de seu concorrente direto ‘My Fair Lady’, foi o número um e ainda alcançou o maior número de indicações ao Oscar, inclusive para melhor filme - a única vez na história da Disney em que isso aconteceu com um longa que não fosse animação. Ganhou cinco: melhor atriz (Andrews), edição, canção (‘Chim Chim Cheree’), trilha sonora e efeitos visuais”, recorda Waldemar Lopes, crítico de cinema e especialista na carreira de Julie Andrews: inclusive sua coleção pessoal já virou exposição no Santos Film Fest - Festival de Cinema de Santos, a única feita no Brasil em homenagem à atriz. 

Waldemar Lopes homenageia o filme. 

Segundo Waldemar, tentar explicar tanto sucesso não é fácil. “Pode-se afirmar que se trata de um dos raros musicais originais feitos para o cinema, e não uma adaptação de um musical da Broadway. O filme era um projeto dos sonhos de Disney, como apresentado em ‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins’ e, sem dúvida, um dos seus favoritos. É um ‘family film'’ (filme para família) extremamente bem realizado, com efeitos especiais fantásticos para a época e algo que Disney se esmerava - a integração de atores com animação”, explica o crítico.

O mito Julie Andrews

Entrevistei o crítico de cinema Rubens Ewald Filho em 2014, por ocasião dos 50 anos deste clássico. O "Homem do Oscar (que faleceu em 2019) ponderou a respeito de outros aspectos do filme, porém destacou a presença de Julie Andrews. “Não há duvida que ela é uma estrela e desde o primeiro minuto que apareceu no palco ainda em ‘The Boy Friend’ e depois em ‘My Fair Lady’, já foi consagrada como tal. É uma verdadeira dama e que tem se mantido bonita até hoje. E cheia de classe. Só isso a torna lendária, inclusive por causa de ‘A Noviça Rebelde’ (1965), que veio logo depois de ‘Mary’ e esse sim devia ter lhe dado um Oscar de atriz”, afirmou.

O crítico de cinema Rubens Ewald Filho. 

“Em se tratando de elenco, Julie foi a grande descoberta e grande acerto de Disney, um caso de 'perfect casting' que até a intransigente autora P. L. Travers – autora do livro no qual o filme é baseado - aprovou. A estrela inglesa ganhou praticamente todos os principais prêmios do ano: o Oscar, o Bafta, o Globo de Ouro e o Grammy. Além de sua beleza natural, presença cênica impecável, dançarina graciosa, seu talento musical impressiona - a voz límpida de quatro oitavas é um espetáculo à parte e dá grande força à interpretação. Seu desempenho tornou-se icônico e muitas atrizes e cantoras declararam ter se inspirado em Julie, como Whitney Houston, Anne Hathaway e Kerry Washington. No Brasil, declararam ser suas admiradoras as atrizes Lília Cabral e Gloria Pires”, celebra Waldemar.

Trilha inesquecível

Waldemar, que possui itens raros em sua vasta coleção da filmografia de Julie Andrews, destaca a trilha sonora. “Os irmãos Sherman compuseram canções maravilhosas que se tornaram hits instantaneamente. ‘Supercalifragilisticexpialidocious’, palavra criada por Mary Poppins que entrou para o dicionário, ‘Spoonful of Sugar’, ‘Step in Time' e a favorita de Walt, ‘Feed the Birds’, proporcionam um sing along de imenso êxito. A trilha sonora se tornou uma das mais vendidas da história, dando um Grammy para Julie. Aliás, para se ter ideia de como o álbum é venerado até hoje, em 2014 o Grammy o homenageou incluindo-o no seu Hall of Fame”, detalha.

“A trilha é muito feliz, Julie era uma figura desconhecida do grande público e para o resto da vida ficou marcada pelo tipo. Deus sabe que ela fez tudo para modificar. Apareceu até nua (Nota: mostra os seios em ‘S.O.B.’, 1981), mas as pessoas fizeram de conta que não viram! Eu francamente vi muitas vezes Mary não porque gostasse tanto, mas na época do vídeo eu assistia até as duas sequências com desenho animado que são antológicas... E ai bastava. E de certa maneira prefiro a montagem do palco, que vi em Londres, com o herói sapateando no teto do teatro”, diz Rubens.

Waldemar Lopes com Julie Andrews em Nova York. 

Oscar de atriz

Por um tempo considerava-se o Oscar concedido a Julie como um prêmio de consolação por não ter sido escolhida para reprisar no cinema sua criação original de Eliza Dolittle em ‘Minha Bel Dama/My Fair Lady’. “Estrela muito jovem da Broadway e sem nenhum filme no currículo, Julie não era considerada pela Warner garantia de bilheteria para uma superprodução como ‘Lady’. Na sua estreia no cinema, no entanto, Julie teve uma história de Cinderela: foi campeã de bilheteria e levou todos os prêmios, sendo que ao receber o Globo de Ouro, declarou: ‘Gostaria de agradecer a Jack Warner por ter feito tudo isso possível!’. Todos caíram na risada, e Jack Warner teve que admitir o quanto estava errado”, relembra Lopes, que também é artista plástico e já retratou os filmes de Julie em suas pinturas.

Legado

Waldemar lista filmes que se inspiraram ou homenageiam o clássico. ''’Esqueceram de Mim – 2’, ‘Frozen’, ‘Diário de uma Babá’ (com Scarlett Johansson) e sitcoms, como ‘Will & Grace’, ‘Nanny and the Professor’, ‘Two and a Half Men’, ‘Saturday Night Live ‘ (Anne Hathaway), além de "Os Simpsons" e até uma novela brasileira, ‘Três Irmãs'’, com Regina Duarte fazendo sua ‘Mary Poppins brasileira’. A famosa revista inglesa Empire incluiu '’Poppins'’como uma das cem maiores personagens do cinema (posição 41). Nas Olimpíadas de 2012, em Londres, um grande momento da abertura foi o número em que várias Mary Poppins aparecem voando, dando as boas vindas aos atletas. E fechando com chave de ouro, fazendo companhia a Martin Scorsese, Julia Roberts, Tom Cruise, Alec Baldwin, entre outros, Tom Hanks e Emma Thompson recentemente declararam na première de ‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins’ que Mary Poppins está entre seus favoritos de todos os tempos e que Julie, como sua personagem, é praticamente perfeita em todos os aspectos”, completa Lopes.

Em 2018 foi lançado "O Retorno de Mary Poppins", com Emily Blunt no papel da babá mágica, sucedendo Julie Andrews. O filme teve a participação especial de Dick Van Dyke, que interpretou o Sr. Dawes no original de 1964. 

Mary Poppins pintada por Waldemar Lopes. 





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