Marnie: Confissões de Uma Ladra (1964), de Alfred Hitchcock

 



Quando estreou em 1964, Marnie: Confissões de Uma Ladra recebeu críticas desfavoráveis, sendo um dos raros fracassos do gênio Alfred Hitchcock. Possivelmente, isso ocorreu porque o público aguardava o retorno de Grace Kelly às telonas. O projeto inicialmente idealizado pelo cineasta visava marcar o retorno de Grace após tornar-se princesa de Mônaco. Embora ela tenha aceitado inicialmente, enfrentou a oposição dos súditos, e acabou substituída por Tippi Hedren, protagonista de Os Pássaros, também do diretor, e igualmente vivendo uma "loira gelada".


Baseada no livro de Winston Graham, a trama acompanha aborda uma mulher cleptomaníaca que rouba devido a traumas do passado: o longa adota  uma perspectiva freudiana, assemelhando-se a outra obra de Hitchcock, Quando Fala o Coração (Spellbound).



Foi o último projeto em que o diretor colaborou com diversos membros habituais - o fotógrafo Robert Burks, o montador George Tomasini e o músico Bernard Hermann. 


A ousadia se manifesta ao escolher Sean Connery, ainda jovem e buscando romper com a imagem de James Bond. Seu personagem casa com Marnie, sabendo das tendências criminosas da esposa. Diane Baker, intérprete da cunhada de Connery, também parece uma versão morena de Grace Kelly.


Apesar da produção apressada e orçamento limitado, o filme tem sequências memoráveis, especialmente pela direção de Hitchcock: a fusão de pesadelo e realidade (Marnie está no sofá próximo à janela, quando quebra o vidro, etc.), o elegante travelling reminiscente de Notorious, quando a câmera desliza até a porta de entrada (a personagem avista um homem vítima dela), e um flashback à maneira de Um Corpo que Cai, ocorrendo no topo de uma torre de igreja. Além disso, há o tradicional cameo do cineasta, presente de forma sutil: uma breve aparição deixando um quarto de hotel.



No documentário que acompanha este clássico no DVD, Robin Wood, autor de Hitchcock's Films Revisited, discute os efeitos especiais do filme e os conecta ao expressionismo alemão:


"[Hitchcock] trabalhou nos estúdios alemães a princípio, no período mudo. Muito cedo, quando começou a fazer filmes, ele viu os filmes mudos alemães de Fritz Lang. Foi enormemente influenciado por isso, e Marnie é basicamente um filme expressionista de várias maneiras. Coisas como sujeiras na tela, retroprojeção e cenários, tempestades com aparência artificial - esses são dispositivos expressionistas e é preciso aceitá-los. Se alguém não os aceita, não entende e não pode gostar de Hitchcock", diz. 


Com o passar do tempo, Marnie seria reavaliado pela crítica, virou cult e presente nas listas de melhores obras cinematográficas da história. 







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