Antes de mais nada, é preciso ser justo: Kraven, o Caçador não é a bomba aguardada nem o pior filme desse universo compartilhado da Sony. Mas calma, isso não é exatamente um elogio — estamos falando de um grupo que inclui Morbius (2022) e Madame Teia (2024). Comparado a esses, até mesmo um fogo de artifício parece digno de nota.
A abertura até engana: a sequência da prisão tem ritmo, energia e até uma pitada de brutalidade que dá aquela esperança. Por um breve momento, me senti assistindo a uma mistura do Justiceiro do Dolph Lundgren com O Corvo de Brandon Lee, somada à vibe da “escola de assassinos” da série Hanna. Mas, conforme o filme avança, essa promessa de algo visceral e impactante dá lugar ao velho “mais do mesmo”.
Dirigido por J.C. Chandor, o longa tenta uma abordagem mais “séria” para contar a origem de Sergei Kravinoff (Aaron Taylor-Johnson, se esforçando ao máximo). A trama foca na relação disfuncional entre Sergei e seu pai (Russell Crowe, um mafioso caricato), e no conflito com seu irmão Dmitri (Fred Hechinger, que até se esforça). A máfia, usada como pano de fundo, é tão genérica que parece ter saído direto de franquias tipo Desejo de Matar, O Protetor, John Wick etc.
Mas não dá para negar: há lampejos de personalidade. A relação de Sergei com a fauna é o que há de mais próximo de autenticidade no filme. Seus poderes, originados de um acidente envolvendo um leão (e uma pitada de misticismo forçado), têm algum charme visual, ainda que a lógica por trás disso seja quase inexistente. A ideia de misturar elementos de tarô e espiritualidade africana até poderia funcionar, mas a execução transforma o potencial em um amontoado de ideias superficiais.
Por fim, é impossível ignorar o maior problema de Kraven, o Caçador: ele faz parte de um universo compartilhado de morte anunciada. A Sony insistiu em criar um “Spider-verse sem o Homem-Aranha”, o que é como montar uma banda sem vocalista. O resultado? Um filme que, mesmo com alguns acertos, soa sem propósito. Ao menos é um libelo em prol dos animais.
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