Prometeu pouco, entregou tudo, Pinguim, a minissérie de oito episódios do Max narra a ascensão de Oswald Cobblepot, interpretado magistralmente por Colin Farrell. Provavelmente no melhor papel de sua carreira. Após a elogiada atuação em The Batman,, o ator retorna ao personagem com ainda mais espaço para explorar suas camadas. No formato de streaming, a série aproveita essa liberdade para investir em uma violência crua e em personagens complexos, moldados pela decadência de Gotham City.
A versão do Pinguim interpretada por Farrell talvez seja a adaptação live-action mais cativante do vilão, superando a memorável encarnação de Danny DeVito em Batman: O Retorno (1992). Se DeVito apresentou um Pinguim grotesco e carregado do expressionismo que Tim Burton tanto adora, Farrell traz ao papel uma atmosfera dos grandes filmes de máfia. Sua caracterização remete aos personagens de Robert De Niro, especialmente em Os Intocáveis, não somente pela maquiagem e as próteses que o transformam completamente, mas pela presença marcante e cheia de pequenos detalhes.
A série se destaca também pelas relações intensas e quase shakesperianas que constrói. Há a relação de Cobblepot com Victor Aguilar (interpretado por Rhenzy Feliz), que se torna um aliado leal, e com Sofia Gigante (Cristin Milioti), filha de Carmine Falcone (interpretado por John Turturro no filme e aqui em flashbacks por Mark Strong), cujo clã trava uma batalha interna pelo poder. O jogo de forças se intensifica com Salvatore Maroni, vivido por Clancy Brown (o vilão de Highlander: O Guerreiro Imortal), que adiciona uma tensão poderosa ao já emaranhado cenário de alianças e traições.
O que torna o seriado especial é que ele não cede à tentação de transformar Cobblepot em um anti-herói redimido. Em uma época em que vilões são constantemente suavizados (Sony, se liga!), a série mantém Cobblepot como um personagem que busca o poder a qualquer custo. Se o início é mais contido, a partir do terceiro episódio o enredo deslancha, aprofundando-se na arquitetura de uma Gotham em ruínas, uma cidade sombria que parece moldada para abrigar figuras perturbadoras e sem escrúpulos.
O episódio final é um show à parte, com uma montagem que evoca o clímax de O Poderoso Chefão, entrelaçando a ascensão de Cobblepot com o caos que se instala ao seu redor. Sem revelar muito, vale dizer que a conclusão é densa e abre o caminho com perfeição para o próximo filme do Batman.
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