A exclusão de Vinícius Jr. da premiação da Bola de Ouro em 2024 é um reflexo amargo do racismo estrutural que permeia o futebol europeu e o eurocentrismo que se recusa a reconhecer plenamente a grandiosidade dos jogadores negros. A história do futebol é recheada de revisões seletivas e desprezo por talentos fora do eixo europeu, uma prática que atinge até o legado de Pelé, o maior de todos os tempos. Não é por acaso que o argumento de que Pelé “nunca jogou na Europa” ainda é usado para deslegitimar suas conquistas, apesar de ele ter aniquilado, em campo, algumas das maiores equipes do continente, como Barcelona, Milan, Benfica e Inter de Milão.
Pelé, com as camisas do Santos e da Seleção Brasileira, não só jogou contra europeus como dominou, goleando equipes e seleções que tinham os melhores jogadores do mundo. Mas, com o passar dos anos, surge um revisionismo cruel que desconsidera tudo isso, alegando que, sem vídeos ou registros contemporâneos amplos, sua história é menos válida. Este pensamento é um reflexo direto do racismo estrutural que permeia a sociedade europeia e que encontra ecos em um esporte onde jogadores negros são celebrados pelo que proporcionam em campo, mas não pelo que representam enquanto figuras históricas.
Cristiano Ronaldo, com pouco mais de 900 gols, recentemente afirmou querer chegar aos 1.000 “todos com vídeo”. Esse comentário, longe de ser apenas uma meta pessoal, carrega uma implicação racial e histórica ao desmerecer as conquistas de Pelé e de outros jogadores do passado, como se a falta de tecnologia na época deles fosse um motivo para apagá-los. Esse discurso anula o valor dos feitos de Pelé ao assumir um raciocínio colonial, que valoriza apenas os registros produzidos no contexto europeu contemporâneo. Não fosse o racismo estrutural que alimenta essa lógica, haveria reconhecimento pleno de que o impacto de Pelé no futebol transcende quaisquer evidências em vídeo.
A verdade é que o eurocentrismo, moldado por séculos de pensamento colonizador, ainda dita quem é reconhecido como “o melhor”. Esse mesmo racismo estrutural permitiu que a exclusão de Vinícius Jr. da Bola de Ouro fosse suavizada por argumentos vazios. O boicote a Vinícius Jr., assim como a falta de reconhecimento pleno de Pelé, não são meros incidentes ou “coincidências”: são marcas de um sistema que sempre encontrou formas de minimizar e apagar a importância de jogadores negros. Para Vinícius, a resposta ao racismo que ele enfrentou de torcedores e instituições europeias foi essa exclusão disfarçada de “mérito esportivo”. Mas, no fundo, trata-se de uma tentativa de silenciá-lo e de apagar uma luta legítima contra a opressão racial.
Aqueles que defendem ou minimizam esse tratamento dado a Vinícius Jr. e Pelé são cúmplices de um racismo que prefere apagar a história a celebrar o que foi construído por fora dos grandes centros europeus. É essencial que esses jogadores e suas contribuições não sejam invisibilizados ou apagados por uma narrativa moldada pela mesma mentalidade colonial e excludente que criou o racismo estrutural.
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