Crítica | Pobres Criaturas deixará incels e redpills desesperados

 



Pobres Criaturas revoltará incels, redpills e fiscais de genitália alheia. E isso é sensacional! O diretor e roteirista grego Yorgos Lanthimos é "fora da casinha", mas conseguiu cair na graça dos grandes festivais e da Academia. Até porque seus filmes, seus são sempre interessantes e fazem atores e atrizes brilharem. Entre os mais recentes trabalhos dele, O Lagosta ganhou o prêmio do júri em Cannes. A Favorita deu o Oscar de atriz a Olivia Colman. Pobres Criaturas tem 11 indicações ao Oscar 2024 e é uma mistura de O Gabinete do Doutor Caligari, Frankenstein com Boris Karloff, filmes de Stanley Kubrick e Ninfomaníaca de Lars Von Trier. Parece estranho. Mas  dá liga. 


Influenciado pelo expressionismo alemão (e suas criaturas deslocadas no mundo e crítica à burguesia), os clássicos de monstro da Universal e momentos kubrickianos de cenários à la Laranja Mecânica e Doutor Fantástico e alguns movimentos de câmera do falecido cineasta, Yorgos criou uma fábula retro futurista de autodescoberta e libertação de uma jovem criada em laboratório, a Bella, interpretada magistralmente por Emma Stone – ela que também encontra em sua personagem uma forma de se autodescobrir e se libertar artisticamente. 



A atriz se deixa filmar nua várias vezes – e isso demonstra a confiança dela no diretor no segundo trabalho juntos. Em A Favorita, pelo qual concorreu ao Oscar de atriz coadjuvante, deixou filmar o seio sutilmente. Agora, deita e rola em cena, literalmente. Foi deixando, aos poucos, a imagem de adolescente de filmes como A Mentira e Zumbilândia. Em La La Land, que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz, demonstrou muito mais maturidade que o parceiro em cena, Ryan Gosling. 


Yorgos Lanthimos por vezes simula na tela como se estivéssemos vendo os personagens por um buraco de fechadura, algo que remete às transições de cena da era do cinema silencioso e nos torna cúmplices da situação, como se fossemos fofoqueiros de plantão. Esfrega em nossa cara a hipocrisia da sociedade que se diz moral, ética, mas é uma sociedade castrada que usa a religião e a família como muletas e impede que pessoas livres sejam felizes. Bella vive inicialmente trancada na mansão do pai. Mas tem vontade de ultrapassar aquelas paredes. Movida por desejos e sensações, Bella é inicialmente primal. O que simplifica sua visão de mundo e a faz não entender por que complicamos tanto as coisas. Racionalizar demais pode fazer mal. Em certo momento ela pergunta ao playboy bon-vivant vivido por Mark Ruffalo: porque as pessoas não fazem mais isso? Ela está falando de sexo. O sexo que é pecado para carolos e carolas infelizes e invejosos de quem vive a vida.  Willem Dafoe faz o médico criador da protagonista. Surge disforme. Perfeito no personagem. Todo o elenco é ótimo. 


Pra vocês que bradam que filmes assim fazem parte da "cultura woke", só digo o seguinte: pena de vocês. Pobres Criaturas mereceu todas as indicações e prêmios e me diverti pacas.




Postar um comentário

0 Comentários