Luis Buñuel (1900-1983)


Diretor espanhol. Um dos grandes nomes do cinema, junto com Salvador Dali, foi criador do movimento Surrealista (com seus dois filmes básicos: Un Chien Andalou e L’Age d’Or). "Sou Ateu, graças a Deus" é uma simplificação, mas sem dúvida sintetiza as contradições deste grande artista, tão importante para a Espanha no cinema quanto seu compatriota Picasso na pintura. E que teve uma consagração muito mais tardia e ainda mais controvertida. 

Poucos se dão conta de que ele tinha já mais de 60 anos quando foi finalmente consagrado pela Palma de Ouro em Cannes para Viridiana e que o filme ainda foi perseguido pela censura da ditadura de Franco (uma ditadura num país europeu e naquela época já era por si só uma coisa Surrealista). E que além disso, a maior parte de sua carreira, Buñuel já fez quando estava velho, quase surdo, mal saído de exílios no México, Estados Unidos e França. 

Surrealista de primeira hora (fez os dois grandes filmes do movimento, com uma discutida parceira com o pintor Salvador Dali, onde a distância do tempo parece dar maior coerência e honestidade à Buñuel). Na verdade, esses filmes tiveram distribuição limitada, assim como outros de qualidade (o documentário Las Hurdes). 

Um Cão Andaluz. 

No cinema mexicano, muito comercializado, ele chegou a ter alguma chance e muito aprendizado, que depois conseguiu realizar em fitas invariavelmente brilhantes. 

Não parece impressionante que alguém tenha feito um filme como A Via Láctea ou O Estranho Caminho de São Tiago, onde dois andarilhos para São Tiago de Compostella vão cruzando com todas as heresias da História da humanidade? Ou que seu último filme tenha tido a coragem de colocar duas atrizes fazendo o mesmo papel (quando Maria Schneider largou a fita, ele a substituiu pela francesa Carole Bouquet e a espanhola Angela Molina e muita gente saia do cinema sem sequer perceber que eram duas atrizes, de tipos inteiramente diferentes)? 

É preciso mesmo ser um grande artista para fazer obras como essas que entram para a antologia de momentos inesquecíveis do século. Isso para não mencionar outras que fez. 


Com certeza, o mundo seria e teria sido melhor se tivesse havido outros Buñueis saudavelmente anárquicos. 

Nascido em Calanda, na Espanha, de família católica, estudou com os jesuítas, freqüentou também a Universidade de Madri, fundando em 1920 o primeiro Cineclube da Espanha. Em 1925, foi para Paris, onde se envolveu com o Movimento Vanguardista, atuando também como assistente de Epstein, Dullac. Depois do succès d'escandale desses filmes, foi obrigado a encontrar trabalho traduzindo filmes, trabalhando para o Museu de Arte Moderna de Nova York e, depois de 1947, realizando filmes medíocres no México. 

Mas sua força criadora permaneceu viva, ressuscitando com a Palma de Ouro em Cannes para Viridiana (seu retorno à sua terra natal, que prontamente proibiu a fita). Daí em diante, a idade, a surdez e as dificuldades de produção não foram mais obstáculos para torná-lo um dos mais lúcidos e inteligentes cineastas de todos os tempos. Em 1972 ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro por O Discreto Charme da Burguesia. 

Depois de terminar O Fantasma da Liberdade, em 1974, declarou que estava cansado demais para continuar filmando e aposentou-se. Entretanto, foi convencido por Serge Silberman, produtor de seus dois filmes anteriores, a voltar a direção. Inicialmente um projeto de rodar À Rebours, de Huysmans, mas trocou por outro escritor francês simbolista, Pierre Louys, e fez Esse Obscuro Objeto do Desejo, baseado no conto La Femme et le Pantin. Pouco antes da morte, publicou sua autobiogafia, O Último Suspiro, e planejava rodar A Casa de Bernarda Alba, de García Lorca.


Filmografia: 

Dir.: 1928 – Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou). 1930 –L’Age d’Or (Idem). 1932 – Las Hurdes ou Tierra sin Pan. 1937 – España Leal en Armas. 1940 – El Vaticano de Pio XII (Doc). No México: 1947 – Gran Cassino (Gran Casino. Libertad Lamarque, Jorge Negrete). 1949 – El Gran Calavera (Fernando Soler, Luiz Alcoriza). 1950 – Os Esquecidos (Los Olvidados. Alfonso Mejía, Estela Inda). Susana, Mulher Diabólica (Susana ou Carne y Demonio. Rosita Quintana, Fernando Soler). 1951 – La Hija del Engaño (Fernando Soler, Amparo Garrido). Uma Mulher sem Amor (Una Mujer sin Amor. Rosario Granados, Tito Junco). Subida al Cielo (Lilia Prado, Carmelita Gonzáles). 1952 – O Bruto (El Bruto. Pedro Armendariz, Katy Jurado). Robinson Crusoe (Dan O’Herlihy, Jaime Fernández). 1953 – Escravos do Rancor (Abismos de Pasión. Jorge Mistral, Iracema Dilian). O Alucinado (ÉI. Arturo de Córdova, Delia Garcez). 1954 – La llusion Viaja en Tranvia (Lilia Prado, Carlos Navarro). EI Rio y la Muerte (Columba Dominguez, Carlos Baena). 1955 – Ensayo de Un Crimen (Miroslava, Ernesto Alonso). Na França: 1956 – Cela s’Appelle l’Aurore (Georges Marchal, Lucia Bosé). La Mort en ce Jardin (Simone Signoret, Georges Marchal). No México: 1958 – Nazarin (Idem. Francisco Rabal, Marga Lopez). 59 – Os Ambiciosos (La Fièvre Monte à El Pao. Maria Félix, Gérard Phillipe). 1960 – A Adolescente (The Young One. Zachary Scott, Key Meersman). 1961 – Viridiana (Silvia Piñal, Fernando Rey). 1962 – O Anjo Exterminador (El Angel Exterminador. Silvia Piñal, Claudio Brook). 1964 – O Diário de Uma Camareira (Le Journal d'Une Femme de Chambre. Jeanne Moreau, Michel Piccoli). 65 – Simon del Desierto (Silvia Piñal, Claudio Brook). 1967 – A Bela da Tarde (Belle de Jour. Catherine Deneuve, Jean Sorel). 1969 – O Estranho Caminho de São Tiago ou Via Láctea (La Voie Lactée. Delphine Seyrig, Pierre Clementi). 1970 – Tristana, Uma Paixão Mórbida (Tristana. Catherine Deneuve, Franco Nero). 1972 – O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme Discret de la Bourgeoisie. Delphine Seyrig, Fernando Rey). 1974 – O Fantasma da Liberdade (Le Phantome de la Liberté. Monica Vitti, Jean-Claude Brialy). 1977 – Esse Obscuro Objeto do Desejo (Cet Obscure Objet du Désir. Fernando Rey, Angela Molina).



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