A história de Mia Khalifa

 

Foram apenas seis meses. Meio ano suficiente para transformar a vida de uma jovem de origem libanesa que, mesmo mudado de vida, ainda precisa falar sobre aquele período.

Mia Khalifa veio ao mundo em 10 de fevereiro de 1993, na cidade de Beirute, Líbano. Frequentou uma escola particular de língua francesa, onde também aprendeu o inglês. Ela e a família – católicos não praticantes - saíram de casa após o conflito no sul do Líbano, em 2000.

Morou no condado de Montgomery, Maryland, onde jogou lacrosse no ensino médio. E sofreu bullying na escola por ser "a garota mais sombria e estranha de lá", o que se intensificou após os ataques de 11 de setembro.

Frequentou a Academia Militar Massanutten em Woodstock, Virgínia.  Ela se sustentou enquanto trabalhava de bartender, modelo e "garota de maleta" em um game show local no estilo Deal or No Deal espanhol.


Em outubro de 2014, iniciou a trajetória na indústria pornográfica. Nessa época, superou a insatisfação com o próprio corpo. Tinha 21 anos e foi convidada por um garoto que a abordou na rua. “Foi algo mais como: ‘Você é linda, gostaria de fazer uns trabalhos como modelo? Bem, é que você tem um corpo lindo’. Mais tarde, quando fui ao estúdio, encontrei um lugar muito respeitável, magnífico, em Miami. Era limpo. Todo mundo que trabalhava lá era simpático. Todos os quartos eram decorados com fotos de família. Como se não fosse nada duvidoso ou que me deixasse desconfortável. Não filmei na primeira vez que entrei lá. Só na segunda. Na primeira, foi mais assinar a papelada etc.”, relembra. Em dezembro daquele ano tornou-se a atriz mais visualizada do mês no site Pornhub.

A escolha dessa profissão por parte de Khalifa tornou-se alvo de controvérsias no Oriente Médio, especialmente devido a um vídeo em que a atriz protagoniza atos sexuais vestindo um hijab islâmico. Após as polêmicas, a atriz afirmou estar desencantada com a carreira de atriz pornográfica e a abandonou três meses depois. Em entrevista ao jornal The Washington Post, Khalifa afirmou que a cena polêmica era satírica e deveria ser interpretada dessa maneira, além de apontar que os filmes de Hollywood retratavam os muçulmanos de forma mais negativa do que a pornografia.

Viveu em Miami enquanto fazia os filmes adultos, e posteriormente mudou-se para El Paso, no Texas, onde concluiu os estudos na Universidade do estado, quando obteve o diploma de Bacharel em Artes.

Segundo a atriz, seus pais pararam de falar com ela, em função dos rumos que tomou no entretenimento para maiores. Os progenitores alegavam que a jovem entrou na indústria pornográfica quando foi morar em um país estrangeiro, de cultura diferente e que as ações não refletiam a educação que recebeu na infância. Esperavam que a filha deixasse a pornografia, afirmando que a imagem dela não honrou a família ou o país de origem.

Entre os colunistas que defenderam publicamente sua decisão de tornar-se uma artista de filmes adultos, o autor britânico-libanês Nasri Atallah disse: "A indignação moral... é equivocada por dois motivos. Em primeiro lugar, como mulher, ela é livre para fazer o que quiser com seu corpo. Como um ser humano sensível em ação, que vive no meio do mundo, ela é responsável por sua própria vida e não deve absolutamente nada ao país onde nasceu”, defendeu o escritor.


 "Os direitos das mulheres no Líbano estão longe de serem levados a sério, visto que uma estrela pornô líbano-estadunidense que não reside em seu país pode causar tamanho alvoroço. O que uma vez me vangloriou para as pessoas serem consideradas a nação mais ocidentalizada no Oriente Médio, agora vejo como devastadoramente arcaico e opressor", ressaltou Mia.

Há ainda um quê de hipocrisia. Se aqui temos os “cidadãos de bem” que defendem “Deus e a família” e fazem tudo ao contrário por debaixo dos panos, no Oriente não é diferente. Os registros do site PornHub apontam que, entre 3 e 6 de janeiro de 2015, as pesquisas por Mia Khalifa quintuplicaram. Cerca de um quarto dessas pesquisas eram originárias do Líbano, com um alto número vindo das regiões dos estados árabes da Síria e da Jordânia. Locais onde ela foi criticada veementemente.

Devido às controvérsias acerca do hijab, Khalifa foi considerada pela revista masculina adulta Loaded, do Reino Unido, como a quinta colocada na lista das "Dez mais notáveis atrizes pornográficas do mundo”, Almaza, uma cervejaria libanesa, divulgou um anúncio que mostrava uma garrafa de cerveja próxima aos óculos assinados por Khalifa, com o slogan: "Nós dois somos somente para adultos". Em 6 de janeiro de 2015, a dupla estadunidense Timeflies lançou a música intitulada "Mia Khalifa", em homenagem a ela.

"Eu acho que foi a minha fase rebelde. Na verdade, não era para mim. Eu meio que me esforcei e tentei me afastar disso”, disse a influencer ao mesmo Washington Post em 2016, alegando que procuraria algo mais convencional para fazer profissionalmente. No entanto, ainda continua trabalhando como uma modelo de webcam. Já em janeiro de 2017, o xHamster confimou que Mia Khalifa foi a atriz adulta mais pesquisada no ano de 2016.

Meme que traz um vídeo de Mia Khalifa colocando os óculos e que a compara a Superman e Clark que soam pessoas diferentes por conta apenas do óculos. 

"Quando me atacam nas redes sociais e usam minhas fotos em filmes pornôs, não me reconheço naquela pessoa. E sinto pena dela, por onde ela estava mentalmente e por quão pouco eu me amava e me respeitava, por como tentava ganhar a aprovação dos outros”, explica. "Tenho muito medo de que meus nudes voltem a circular nas redes sociais, mas ultimamente tenho me sentido confortável em criar coisas artisticamente lindas e isso tem me dado confiança para mostrar mais”, comentou sobre a possibilidade de nudes voltarem a circular nas redes. Ela chegou a processar o PornHub para que os vídeos saíssem do ar, sem êxito. "Tentei uma vez, mas parei de lutar por essa causa quando um escritório de advocacia me avisou que não chegaríamos a lugar nenhum, que a luta levaria décadas da minha vida, milhões de dólares e que mesmo assim não havia garantia de que eu conseguiria vencê-los", declarou.

Em 2019, falou à BBC estar arrependida de ter trabalhado com pornografia, pois acreditava que "pudesse fazer do pornô o meu segredinho, mas o tiro saiu pela culatra”. Também detalhou as ameaças recebidas pelo Estado islâmico. Após deixar a indústria pornográfica, buscou usar sua fama de outras formas, como se tornando uma influenciadora digital. Em maio de 2020, possuía 20 milhões de seguidores no Instagram e outros 3,2 milhões no Twitter.

Depois de encerrar a sua carreira nos filmes adultos, virou milhões de seguidores de várias partes do mundo, principalmente no Instagram e no Twitter, nas quais demonstra apoio às equipes profissionais esportivas da área de Washington, D. C., incluindo o Washington Redskins, Washington Wizards e o Washington Capitals.

Mia Khalifa se casará chef sueco — Foto: Reprodução/Instagram.

Em agosto de 2019, Khalifa e o chef de cozinha sueco Robert Sandberg ficaram noivos.

A influencer tem uma tatuagem do primeiro verso do Hino Nacional Libanês e outra da cruz das forças armadas libanesas: a última ela fez em 2012, após um bombardeio no Líbano, destacando que o objetivo era mostrar solidariedade às visões políticas da terra-natal.

Criaria uma conta no OnlyFans, onde publicaria fotos íntimas e geraria revolta das pessoas que a defenderam antes. 


Ficou conhecida no Brasil (para além do pornô) ao ser citada na CPI da Covid em junho de 2021 após o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) citar uma pesquisa publicada pela revista Lancet, que comprovava a ineficácia da cloroquina como tratamento de covid-19 e posteriormente, foi retratada.

Na ocasião, o senador disse que a pesquisa havia sido encomendada pela empresa de uma atriz pornô. Na internet, a fala foi relacionada a uma notícia falsa que defendia o uso da cloroquina como tratamento para covid e citava uma médica “prodígio” do Brasil, mas a foto era da ex-atriz Mia Khalifa. O assunto virou memes nas redes sociais e na época, Mia chegou a postar em seu perfil no Twitter uma montagem em que seria convidada da CPI.

Em janeiro de 2024, a influenciadora compartilhou um vídeo em suas redes sociais registrando o momento em que foi confrontada por uma apoiadora do genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino. No vídeo, gravado pela própria Mia com o celular, uma senhora se aproxima e se identifica "Yisrael Chai", expressão em hebraico que significa "o povo de Israel vive”. Enquanto isso, o filho da madame tenta aplicar â mãe quem seria a mulher bonita à sua frente.

A ex-atriz continua filmando quando a apoiadora de Israel retorna e repete a expressão "eu sou uma Yisrael Chai." Mia responde: "Afaste-se de mim, seu hálito está desagradável."

Em sua conta do 'X', Mia Khalifa esclareceu que a pessoa no vídeo era uma vendedora que a seguiu e a insultou enquanto ela aguardava um táxi por aplicativo em uma feira de antiguidades. "Diria que apoiar a Palestina me fez perder oportunidades de negócios, mas estou mais irritada comigo mesma por não ter verificado se estava ou não entrando em negócios com sionistas”, chegou a publicar nas redes sociais.

Por conta de seu posicionamento, em 2020 ela foi demitida da Playboy, onde tinha o canal Playboy de Mia. 


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