Pelé, o maior de todos, o verdadeiro GOAT

Nossa homenagem também está disponível em vídeo no YouTube, logo abaixo, e em texto neste post. 




Falar de Pelé é chover no molhado. Ou deveria ser. Mas há quem insista, de tempos em tempos, em tentativas de revisionismos históricos rasos, burros. Desde coisas absurdas do tipo “ah, não houve holocausto”. Ou “nazismo era de esquerda”. E, no âmbito esportivo, há quem tente defender que o Rei não foi Rei. 

Edson nasceu em Três Corações. Viveu em Bauru. Em Santos, litoral paulista, já Pelé, mudou radicalmente a história de um time até então de poucos títulos. Muito antes de Maradona transformar o Napoli. Com a diferença de que o legado de Pelé no Santos Futebol Clube segue até hoje. 

Aos 15 anos era profissional. Aos 16 estava na seleção brasileira. Não era diamante bruto. Chegou lapidado à sua primeira Copa do Mundo, em 1958. 

Com apenas 17 anos não pôde jogar os primeiros jogos por conta de uma contusão. Entrou nas quartas e decidiu o jogo, fez o gol contra País de Gales. 

Na semifinal, contra a forte França de Just Fontaine, fez 3. 

Na final, contra os anfitriões suecos, outros dois. 

Gols de pé esquerdo, direito, de cabeça, dando chapéu no zagueiro, chute forte de fora da área no ângulo. 

Um belo e diversificado repertório. 

Num tempo em que o Brasil era coqueluche mundial: a Bossa Nova, o Cinema Novo, a arquitetura de Oscar Niemeyer, a tenista Maria Esther Bueno brilhando em Wimbledon, Eder Jofre no boxe, o basquete campeão mundial. 

E o futebol era o carro-chefe deste momento, quando finalmente superávamos, enquanto brasileiros, o tal complexo de vira-latas alardeado por Nelson Rodrigues, principalmente após a chocante derrota para o Uruguai na Copa de 1950, em pleno Maracanã. 

Em sua segunda Copa, em 1962, saiu do certame após se machucar, mas deixou mais uma obra-prima registrada. Um gol que nem sempre é lembrado como deveria: contra o México, Pelé fez fila desde quase o meio campo, passou feito trator, na habilidade na força, por quatro algozes, e colocou de pé esquerdo a bola no canto do goleiro. Um golaço. Link abaixo. 

Em 1966 novamente foi caçado e deixou o torneio machucado. Ainda assim fez um gol e encerrou a parceria invicta com Mané Garrincha: foram 40 jogos juntos, 36 vitórias e quatro empates. 

Em sua despedida das copas, em 1970, Pelé novamente nos presenteou com um repertório vasto de gols e assistências. Gols de cabeça, de falta, passes magistrais e os gols que Pelé não fez. 

Pois é, se hoje, conforme podemos ver em vídeos no Youtube, craques celebrados refazem jogadas que o Rei eternizou 50, 60 anos antes, também realizam jogadas que o Rei criou ou popularizou, mesmo que não tenham sido transformadas em gols. Como o chute de antes do meio campo. 

Para quem insiste em minimizar seus feitos, não vou nem falar da bola mais pesada, dos gramados horrorosos, das estruturas precárias nos anos 1950, 1960, etc, se comparadas às atuais. 

Obviamente o esporte evolui. 

A diferença é que Pelé já era evoluído em seu tempo. Estava à frente de todos tecnicamente, fisicamente, mentalmente. 

Sobre a contagem de seus gols, é preciso entendemos o contexto daquelas décadas, onde a locomoção dos times era bem mais difícil. E, por isso, os estaduais tinham valor de campeonatos nacionais. Enfrentar um time do interior de São Paulo não era mais fácil que o Real Madrid jogar com o Rayo Vallecano, Tenerife ou Osasuna no Espanhol. 

Times menores como Portuguesa, Ponte Preta, Guarani, em São Paulo, América e Bangu no Rio, cediam jogadores à seleção. Raros iam jogar na Europa e nem eram os melhores (exceto Didi que chegou a ir ao Real). 

Mazzola, que iniciou titular em 1958, por exemplo, deu lugar ao Pelé de 17 anos e depois foi brilhar na Itália, ganhando inclusive a Liga dos Campeões. Acontece que, na América do Sul, estavam muito mais craques que do outro lado do Continente. 

Mas um eurocentrismo, que nada ajuda ao mundo, insiste em dominar nossas mentes e, hoje, o futebol do outro lado do Atlântico só é mais competitivo por questões financeiras. Algo que vai muito além do esporte e envolve relações desiguais entre países, continentes e que é papo para outro vídeo. 

E uma maneira dos times manterem seus craques aqui, cujos salários não eram tão diferentes daqueles pagos em solo europeu, era excursionar. 

Torneios fora dos campeonatos nacionais eram muito mais valorizados e serviam para que times de nações e continentes diferentes medissem forças. E o mundo parava para ver o Santos de Pelé. Por isso é absurdo não levar em consideração os gols e assistências do Rei nesses jogos. 

Ok, não precisamos considerar gols no time do exército. Mas no caso dos torneios e amistosos com gigantes europeus devemos levar em consideração sim. Até porque hoje, Supercopa do Brasil, Supercopa Europeia, Supercopa da França, da Espanha, etc, geralmente taças de um jogo só, ou dois, são considerados oficiais e, não poucas vezes, disputados como jogo de fim de semana com os principais craques iniciando no banco de reservas ou poupados. 

Por isso dou risada quando um Daniel Alves da vida diz ser o maior vencedor da história, considerando títulos em cima de equipes sem a menor expressão. 

Pelé enfrentou o Benfica de Eusébio, o Bayern de Beckenbauer e muitos e muitos outros. E financeiramente essas excursões eram mais rentáveis para o Santos do que, por exemplo, jogar a Libertadores. 

Tanto que existia uma honraria chamada Fita Azul, tradicional, importante e que premiava times brasileiros que faziam brilhantes excursões no exterior. Santos, Corinthians, São Paulo, etc a receberam. Muitas vezes, times de menor expressão do Brasil excursionavam e superavam com facilidade times estrangeiros. A Portuguesa Santista, centenária, tem a sua Fita Azul. O Bangu, que não era a primeira opção brasileira, venceu, em 1960, a International League Soccer, nos Estados Unidos, derrotando grandes adversários com certa sobra. 

O melhor futebol estava na América. 

Pelé, muito antes de Zico difundir o futebol no Japão, difundiu o futebol nos Estados Unidos. Foi escolhido atleta do Século, o maior de todos, o Rei do Futebol, por estrangeiros. 

Muito antes de Ronaldo, Beckham, Neymar, Lebron James, etc, virou fenômeno midiático. Fez comerciais, estrelou filmes, compôs canções, foi recebido com todas as honras pela Rainha da Inglaterra e pelo Papa, virou história em quadrinhos, marca de Café. 

A diferença é que fazia questão de dar atenção a todos. Dificultava a vida de seus assessores, pois atendia do jornalista do menor órgão de imprensa ao maior, da criança ao idoso. Conversava com todos de maneira igual. Um mix de humildade e também de entendimento sobre tudo que a alcunha de Rei e seu significado acarretavam. 

Para quem defende que faltou ao Rei se posicionar mais sobre questões políticas, raciais, indico uma entrevista dele ao Jô, um podcast com presenças do rapper Snoop Dogg e do ex-pugilista campeão Mike Tyson, e o depoimento da política Benedita da Silva no documentário Pelé, do Netflix. Os links estão abaixo. 

Pelé, homem preto, brasileiro, simplesmente fez, pessoas do mundo inteiro, de todas as idades, de todas as etnias e cores, se curvarem a ele. 

Obviamente num momento de emoção tendemos a deixar os defeitos de lado. Porém não vou entrar nas questões da sua vida pessoal. Todos nós erramos. Aliás, não há quem passe por este planeta sem errar. E errar bastante. 

Entretanto, em tempos em que a autoestima do brasileiro está em frangalhos, precisamos mais do que nunca ressaltar o legado do maior jogador de todos. O atleta que tinha a habilidade de Mané Garrincha e Ronaldinho Gaúcho, a explosão física dos Ronaldos, o fenômeno e CR7, a objetividade e o controle de Messi, a genialidade de Maradona, executava a bicicleta tal qual Leônidas, batia faltas de perto e de longe como Marcelinho, Zico e Juninho Pernambucano. 

Aliás, sempre me pergunto por que não colocam Pelé entre os primeiros nas listas dos maiores batedores de falta de todos os tempos, já que fez no mínimo 70 gols assim.

Que cabeceava tal qual Dario, armava o jogo como Gérson, Rivelino, Xavi e Iniesta. Fez gols e deu passes de todos os jeitos. 

Por sinal, Pelé não pode ser colocado em pé de igualdade com nenhum destes. 

Pelé virou sinônimo de excelência. Como acontece com o Oscar ao falarmos que o Emmy é o Oscar da televisão, o Grammy é o Oscar da música, o Tony é o Oscar do teatro. Temos exemplos de Pelés nas mais diversas áreas. 

O hall a que Pelé pertence inclui gente como Muhammad Ali, Jesse Owens, Michael Jordan, figuras que transformaram e elevaram seus esportes, transcenderam, ditaram caminhos, revolucionaram, influenciaram comportamentos. 

Incluo ainda aí Louis Armstrong, Beatles, Elvis, Michael Jackson, Charles Chaplin, Walt Disney, Marilyn Monroe, Alfred Hitchcock, Mozart, Beethoven. 

Em comum, ícones atemporais, reconhecidos mundialmente. Gênios cujos talentos, carismas, capacidades técnicas, fizeram, deste planetinha, um mundo mais criativo, talentoso, melhor. 

Pelé com Muhammad Ali. 


O presidente Sul-Africano, Nelson Mandela e o então Ministro do Esporte brasileiro, o ex-jogador de futebol Pelé, em Pretória, África do Sul – 1995 Juda Ngwenya/Reuters 




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