James Gunn, cuja fama mundial foi alcançada ao revitalizar personagens desconhecidos da Marvel na franquia Guardiões da Galáxia, traz sua fórmula mágica ao DCU: Comando de Criaturas combina irreverência, ação e profundidade emocional. Após a elogiada incursão em O Esquadrão Suicida (2021, de bilheteria prejudicada pela pandemia), o cineasta assume o desafio de rebootar o universo cinematográfico da DC, e o faz com um início ousado e promissor.
A premissa de Comando de Criaturas soa familiar: um grupo de personagens moralmente questionáveis é recrutado por Amanda Waller (Viola Davis, dublando a personagem que fez em live action)) para realizar missões sujas em prol do governo dos EUA. A diferença aqui está no elenco: criaturas monstruosas e traumatizadas, que trazem histórias de rejeição, dor e sobrevivência. Gunn pega essa combinação improvável e transforma o absurdo em uma narrativa envolvente.
O time é liderado ostensivamente por Rick Flag Sr. (Frank Grillo), mas a verdadeira capitã é a Noiva (Indira Varma), uma figura fascinante, resiliente e brutal. Ao lado dela estão GI Robot (Sean Gunn), programado para eliminar nazistas desde a Segunda Guerra; o hilário e bizarro Doninha (repetindo o dublador anterior); Doutor Fósforo (Alan Tudyk), um esqueleto flamejante que ilumina tanto literalmente quanto figurativamente; e Nina Mazursky (Zoë Chao), uma mulher-peixe com inteligência afiada e alma gentil, que nos lembra de A Forma da Água e o Monstro da Lagoa Negra.
Con sete episódios curtos e dinâmicos, a minissérie aposta em animações fluidas e um estilo visual vibrante. A violência gráfica, combinada a diálogos sarcásticos e momentos de introspecção, deixa claro que não é uma história para crianças. Gunn aproveita a liberdade da animação para expandir sua criatividade e reforçar temas políticos: a manipulação governamental e as intervenções imperialistas dos EUA.
Cada episódio dedica tempo para explorar o passado dos personagens, humanizando suas monstruosidades. O equilíbrio entre tragédia e humor ácido é mantido de forma brilhante, evitando cair no sentimentalismo. Um exemplo marcante é a relação conturbada entre a Noiva e Eric (David Harbour), que oferece momentos de horror, drama e até comédia absurda.
Gunn também nos mostra, em sua filmografia — desde Guardiões da Galáxia, passando por O Esquadrão Suicida, Pacificador, e agora Comando de Criaturas — que, no fundo, os monstros somos nós, os humanos, que não hesitam em marginalizar, manipular, explorar e encarcerar quem é diferente.
A trilha sonora, marca registrada dos trabalhos do diretor, é um espetáculo à parte. Tem músicas que não são extremamente populares mas cativam. A abertura, estilizada e criativa, remete ao trabalho feito em O Pacificador e já cria expectativas para os futuros projetos do DCU.
O único “porém” de Comando de Criaturas é o mesmo que eu já havia apontado em Nosferatu. Mais uma vez temos personagens femininas incríveis que acabam sendo punidas no final. No caso, são Nina Mazursky e a Princesa Ilana (Maria Bakalova). A princesa, com planos de dominação mundial, é vítima de sua ambição, enquanto Nina, com toda sua inteligência e empatia, também não escapa de um destino trágico.
Com Comando de Criaturas, James Gunn prova novamente a habilidade de transformar personagens excêntricos em figuras cativantes. A série estabelece o tom para o DCU e desperta curiosidade sobre como esses personagens animados se traduzirão para o live-action. Enquanto aguardamos ansiosamente Superman, a estreia oficial no cinema desse universo, Comando de Criaturas nos lembra que mesmo os monstros têm histórias para contar.
⭐️⭐️⭐️⭐️
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