Crítica | Extremamente Confidencial parece novela mexicana dublada por britânicos


Extremamente Confidencial é o tipo de filme que, em certos momentos, me fez sentir que estava assistindo a uma novela mexicana dublada por britânicos — e não das boas. Imagine aquele elenco composto por pessoas impecavelmente bonitas, vestindo roupas elegantes em paisagens de tirar o fôlego, cercados por mansões exuberantes. Agora adicione um toque de breguice, onde tudo parece plástico e exagerado, com personagens que mais parecem ter saído de um catálogo de moda do que de uma trama convincente.

Damian Hurley, filho da icônica Elizabeth Hurley, dirige e escreve esse thriller que, por vezes, parece mais um comercial disfarçado de turismo para St. Kitts e Nevis. “Certos segredos deveriam permanecer enterrados”, diz o slogan do filme. Bem, talvez isso fosse válido para o roteiro também, já que o número de revelações forçadas e absurdas que ele tenta desenterrar faria corar até o roteirista de uma novela das nove.

A premissa até começa como um típico thriller erótico — aquele que, teoricamente, faria os espectadores se contorcerem na cadeira. No entanto, rapidamente a trama descamba para uma série de monólogos explicativos e intermináveis flashbacks que fariam até a intriga mais elaborada de Dynasty parecer um estudo psicológico profundo. Tudo isso em um cenário que, no fundo, parece mais preocupado em mostrar corpos sarados e figurinos de gala do que em desenvolver algo remotamente coerente.

Mia (Georgia Lock) ainda está assombrada pela morte de sua melhor amiga, Rebecca (Lauren McQueen), que se suicidou no verão passado sob circunstâncias misteriosas. Para buscar "encerramento", a mãe de Rebecca, Lily (Elizabeth Hurley), convida todos os amigos de sua filha para uma nova temporada de férias na paradisíaca ilha de St. Kitts. No entanto, o que era para ser uma reunião de velhos amigos se transforma em uma teia de segredos e traições, com todos escondendo algo sobre o que realmente aconteceu naquele fatídico verão.


O próprio Damian Hurley se esforça para transformar o que claramente foi uma férias nas ilhas paradisíacas em algo minimamente interessante para o público. Enquanto a equipe parece ter aproveitado o sol caribenho, os espectadores acabam com a sensação de que foram deixados de lado. Atores e atrizes — incluindo a sempre glamourosa Elizabeth Hurley — desfilam em suas roupas glamorosas, mas sem muita substância. De fato, por vezes o filme se assemelha mais a uma propaganda de perfumes ou a uma revista de moda em movimento do que a um suspense.

Ah, e como esquecer dos diálogos? Dignos de gerar gargalhadas nos momentos menos esperados, eles transformam as reviravoltas da trama em piadas involuntárias. A coisa fica tão absurda que, depois de um tempo, você para de esperar coerência e começa a assistir pelo puro prazer do ridículo. As revelações chocantes acabam sendo tão exageradas que você quase consegue ouvir um narrador dramático dizendo: "Mas espere, tem mais!"

Tudo culmina em um festival de atuações que parece ter sido extraído diretamente do manual “Como não interpretar emoções humanas”. Georgia Lock, a protagonista, se vê no epicentro dessa tempestade de falas e situações exageradas, carregando o peso de expressões que, em outro contexto, poderiam até funcionar. Mas aqui, é como ver alguém tentando segurar uma pose glamourosa enquanto escorrega em uma casca de banana.

Visualmente, o filme até que tem seus momentos — se o que você procura é um álbum de fotos de férias de celebridades. Mas qualquer tentativa de criar suspense ou mistério é rapidamente abandonada em favor de mostrar como os personagens ficam bem em biquínis ou em cenas posadas à beira da praia. No fim, o resultado é algo que se assemelha a uma novela mexicana, mas com um polimento britânico que só torna tudo ainda mais estranho.

Se assistido com a dose certa de ironia e talvez acompanhado de uma boa bebida tropical, Extremamente Confidencial pode até render risadas — ainda que não pelas razões que os realizadores esperavam.

Agora disponível no Prime Video, após um discreto lançamento em poucos cinemas pelo mundo, Extremamente Confidencial promete ao menos divertir aqueles dispostos a embarcar no tom brega e kitsch do filme.

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