A recente comparação entre Wagner Moura e Tom Cruise, motivada pela presença do astro hollywoodiano na final do futebol feminino nas Olimpíadas, quando torcedores brasileiros exibiram um cartaz dizendo “Wagner Moura é melhor que Tom Cruise”, traz à tona um tema recorrente no Brasil: o “complexo de vira-lata”, alcunha criada por Nelson Rodrigues. Em post que fiz com a imagem do cartaz, uma enxurrada de “brasileiros” passou a atacar Wagner e defender Tom. Enquanto os argentinos celebram Maradona e Messi com devoção quase religiosa, muitos brasileiros tendem a subestimar os próprios talentos, como bem observou Tom Jobim: “No Brasil, sucesso é uma ofensa pessoal”. Essa postura nos leva a questionar: por que tantas pessoas ainda insistem em idolatrar estrelas estrangeiras enquanto desconsideram os talentos daqui?
Wagner Moura é, sem dúvida, um dos maiores atores brasileiros da história. A interpretação do Capitão Nascimento em "Tropa de Elite" tornou-se um fenômeno pop e cultural: o segundo filme virou a maior bilheteria do cinema nacional, e as falas do personagem ecoavam pelo Maracanã. Em *Narcos*, o ator foi além das fronteiras brasileiras e conquistou o público internacional ao interpretar Pablo Escobar, um papel que exigiu o domínio de outro idioma e uma entrega emocional intensa. Sua atuação foi amplamente elogiada.
Por outro lado, a vida pessoal de Wagner Moura também tem sido alvo de críticas, muitas vezes motivadas por suas posições políticas de esquerda. No entanto, é importante destacar que ser de esquerda não implica em equívoco moral ou mau-caratismo. Moura nunca defendeu genocídios ou minimizou crises de saúde pública como o Covid-19, que alguns chegaram a chamar de "gripezinha". As críticas direcionadas a ele, em grande parte, refletem uma intolerância às suas opiniões políticas, desviando o foco de suas contribuições artísticas.
No entanto, a vida pessoal de Tom Cruise tem sido marcada por controvérsias que, para muitos, ofuscam seu talento. Seus casamentos, especialmente com Nicole Kidman e Katie Holmes, foram intensamente explorados pela mídia. Além disso, sua ligação com a Cientologia, uma religião cercada de mistérios e acusações de práticas coercitivas, tem gerado críticas e questionamentos ao longo dos anos. Essa associação levantou preocupações sobre a influência da religião em sua vida pessoal e profissional, adicionando uma camada de complexidade à sua imagem pública. Se é para comparar vidas pessoais, os problemas de Cruise superam amplamente qualquer controvérsia ligada a Moura.
Tom Cruise, apesar de ator dedicado, famoso por dispensar dublês em cenas de ação arriscadas, e até trabalhar em bons dramas como "Nascido em 4 de Julho" e "Magnólia", não demonstra a mesma amplitude de Moura. Cruise se limita, na maioria das vezes, a papéis de ação ou heróis carismáticos, como em *Missão Impossível* e *Top Gun*. Embora sua dedicação seja admirável, raramente se desvia desses arquétipos, o que acaba restringindo a variedade de sua filmografia.
Um dos aspectos mais marcantes da carreira de Wagner Moura é a capacidade de transitar entre diferentes gêneros com naturalidade. Em "Saneamento Básico, o Filme", de Jorge Furtado, Moura mostrou uma veia cômica, com habilidade para fazer humor de maneira natural e envolvente. Essa flexibilidade para alternar entre drama, ação e comédia não é algo que se vê frequentemente em Hollywood, e muito menos em atores tipo Tom Cruise, que raramente se arriscam em papéis cômicos.
Essa comparação entre Moura e Cruise ressalta a questão cultural que permeia o Brasil. Enquanto os argentinos veneram ídolos, muitos brasileiros ainda caem na armadilha do complexo de vira-lata, valorizando mais o que vem de fora do que o que é genuinamente nacional.
A dedicação de Tom Cruise ao cinema de ação é inegável, e a tentativa de trabalhar com diretores consagrados é louvável, mas não conseguiu, por exemplo, o mesmo respeito que Leonardo DiCaprio. Wagner Moura se destaca justamente por não se limitar a um único tipo de papel ou gênero. Ele é capaz de ir da tensão de um drama policial à leveza de uma comédia, demonstrando uma versatilidade que poucos atores alcançam. Essa capacidade de adaptação e reinvenção é o que realmente diferencia Moura no cenário global, tornando-o um dos grandes nomes da atuação atual.
Essa comparação não deve se limitar a uma competição entre Moura e Cruise, mas deve servir de chamado para que os brasileiros reconsiderem como veem seus próprios talentos. O sucesso de Wagner Moura no cenário internacional é uma prova viva de que o Brasil tem, sim, artistas à altura dos maiores nomes do mundo. E isso é algo que deve ser motivo de orgulho.
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