Os 15 melhores musicais do cinema

Por Waldemar Lopes, colaborador 

A Noviça Rebelde. 



Como é difícil fazer uma lista dos meus 15 musicais favoritos – logo eu, que adoro o gênero. Gosto de musicais porque combinam perfeitamente do que há de melhor em cinema, música e dança. O primeiro longa sonoro foi um musical: O Cantor de Jazz, com Al Johnson.

E o que são os vídeos hoje, se não minimusicais? O público que os rejeita pergunta porque as pessoas começam de repente a cantar e a dançar. Pela mesma razão pela qual num filme de guerra soldados se  matam, ou  pela qual, em filmes de terror há tantas cenas tenebrosas.

Até os anos 50, o musical era um gênero que dominava a telona, lançando os melhores profissionais imagináveis – Gene Kelly, Fred Astaire, Judy Garland, Ginger Rogers, Cyd Charisse são alguns nomes que brilham intensamente.

Nos anos 60, a rainha dos musicais foi a talentosa Julie Andrews, seguida de Barbra Streisand e o último grande nome foi Liza Minnelli, no começo dos anos 70.

Esse trio fantástico foi premiado com Oscar e o Globo de Ouro.

O gênero entrou em declínio, desapareceu completamente e reapareceu ocasionalmente em filmes corajosos e cheios de novos talentos nas décadas seguintes.

Em tantos anos de premiação, no entanto, somente cerca de dez musicais receberam o Oscar de melhor filme: Melodia da Broadway, O Grande ZiegfeldO Bom PastorUm Americano em ParisGigiAmor, Sublime AmorMinha Bela DamaA Noviça RebeldeOliver! Chicago. Heróis da resistência, alguns musicais se impuseram e viraram clássicos absolutos, ou cults.

Aqui vai minha lista de 15 musicais carregada de sofrimento, pois poderia incluir cinquenta. Se você lembrou de algum musical que não está na lista, escreva nos comentários.


1 – A Noviça Rebelde (1965)
O clássico de Robert Wise é uma obra prima que vai encantar até quem tem horror à musical. A história é verdadeira, sobre uma noviça que vai ser governanta de sete crianças órfãs de mãe, os filhos de um capitão da marinha na Áustria dos anos 30. No epílogo, o musical torna-se um filme de guerra. Interpretada magnificamente por Julie Andrews, linda, com sua voz fabulosa e imenso talento, Maria ganhou corações através das décadas, merecendo homenagem da Academia no aniversário de 50 anos do filme, com a presença da realeza de Hollywood, Julie. Canções famosas e belíssimas (Do Re MiMy Favorite ThingsEdelweiss), fotografia esplendorosa, roteiro certeiro de Ernest Lehman, direção brilhante e elenco perfeito fizeram  desse musical um campeão de bilheteria – hoje estaria em terceiro lugar, considerando a inflação, e vencedor de cinco Oscars, incluindo filme e direção. Julie só não venceu porque acabara de ganhar por Mary Poppins. Para se ver e rever, com sorrisos e lágrimas, como diz o título em espanhol.


2 – Mary Poppins 
(1964)
O mais amado musical de Walt Disney teve um número impressionante de indicações ao Oscar – 13, inclusive melhor filme, e ganhou cinco, começando por melhor atriz, a estreante Julie Andrews, escolha do famoso produtor para interpretar uma babá inglesa cheia de magia, criada à perfeição por Julie, com sua beleza, autoridade, rispidez, graça e ainda uma voz espetacular . Preterida para ser ”Minha Bela Dama”, que fez nos palcos por quase quatro anos, por ser apenas famosa nos palcos, a lenda da Broadway Julie foi campeã de bilheteria em sua estreia no cinema e venceu todos os prêmios do ano. As canções são fantásticas: SupercalifragilisticexpialidociousJolly HolidayA Spoon full of Sugar e a favorita de Walt, Feed the Birds. Dick Van Dyke é Bert, amigo de Mary. Os dois reinam nos números musicais – Step in Time encanta por 14 minutos.


3 – Cantando na Chuva
 (1952)
Fascinante longa de Stanley Donen sobre o fim do cinema mudo e a chegada do cinema falado. Um elenco espetacular – Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O’Connor, Cyd Charisse e Jean Hagen como a estrela de voz esganiçada. Um clássico com canções maravilhosas: Good MorningMake Them Laugh, a canção título, e ainda oferece romance, humor e o guarda-chuva mais famoso do cinema (junto com o de Mary Poppins). Não ganhou Oscar, mas é lembrado como um dos melhores filmes de todos os tempos. Paralelamente,de Stanley Donen também adoro 7 Noivas para 7 Irmãos e sua coreografia energizada de Michael Kid (A Estrela!), com Howard Keel e Shirley Jones. Sou fã de  Um Americano em Paris, de Vincente Minnelli, também com o genial Gene Kelly e Leslie Caron, Meias de Seda, de Rouben Mamoulian  com o super elegante Fred Astaire e Cyd Charisse,  O Picolino, com a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers, e sua clássica canção Cheek to Cheek.


4 – Cabaret
 (1972)
Liza Minnelli arrebenta como uma louquinha, porém talentosa, cantora de cabaré em Berlin durante a Segunda Guerra e se envolve num ousado triângulo amoroso, onde um dos vértices é o ótimo Michael York. Joel Grey está fantástico como o sinistro mestre de cerimônia, e acabou levando o Oscar de coadjuvante. A grande estrela Liza foi premiada com o Oscar de atriz. Liza canta Money, MoneyMein HerrMaybe This Time e Cabaret com uma força e energia inigualáveis. Uma obra arrebatadora de Bob Fosse, lenda da Broadway que tem um desfecho cruel e nos deixa com um nó na garganta. Imperdível.


5 – Amor, Sublime Amor 
(1961)
Robert Wise antes do perfeito A Noviça Rebelde já tinha chegado à perfeição pela primeira vez com esta versão de “Romeu e Julieta” estrelando a linda Natalie Wood, George Chakiris e Rita Moreno, essa última dupla vencedora dos Oscars de coadjuvantes, dos 10 conquistados por esse musical clássico e moderno, inclusive filme e diretor. Ao invés de Capuletos e Montéquios, temos as gangues de Nova York, os Jets e os Sharks. Canções magníficas como TonightAmerica, I Feel Pretty e Somewhere foram gravadas pela nobreza do mundo musical. Preparem-se para chorar.


6 – Nasce uma Estrela
 (1954)
Judy Garland no auge da voz e interpretação é a estrela que ascende ao estrelado com o ocaso do astro James Mason – seu grande amor. Números musicais formidáveis incluem o mega clássico The Man That Got Away. Judy era a favorita para o Oscar de melhor atriz, que acabou indo para as mãos de Grace Kelly. Outros filmes de Judy que também são espetaculares são Agora Seremos Felizes, com canções do quilate de The Troley Song, e O Mágico de Oz, com a icônica Over the Rainbow.


7  – Funny Girl – A Garota Genial 
(1968)
Funny Girl tem o mérito de trazer Barbra Streisand no papel que definiu sua persona e carreira, Funny Brice, em números inspiradores, com sua voz poderosa, como The Greatest StarDon’t Rain On My Parade e People. Explosão de Barbra sob a direção de William Wyler, deu Oscar de melhor atriz empatado com Katherine Hepburn em O Leão no Inverno, único caso na história. Também de Barbra, Hello, Dolly!, de Gene Kelly, é admirável, embora Barbra seja jovem demais para o papel que era de Carol Channing.


8 – Positivamente Millie 
(1967)
Uma delícia de musical, a maior bilheteria do ano, Oscar de arranjos musicais e Globo de Ouro para Julie Andrews como atriz favorita do mundo. Como num cartoon, ela desenha sua personagem Millie em espetacular interpretação. Moça simples do interior, Millie  vai a Nova York, toma um banho de loja nos créditos iniciais e vai em busca de seu sonho – casar com seu patrão, não importa quem for. Toda a loucura dos anos 20, canções fantásticas como Baby Face e coreografias incríveis são um prato cheio para Julie, que brilha com o elenco formidável: Mary Tyler Moore, James Fox, Beatrice Lillie, Carol Channing e Pat Morita (Karatê Kid). Muito humor e ação com a direção brilhante de George Roy Hill (Oscar 1973, Golpe de Mestre). Como não se deixar seduzir por um elevador que só funciona quando as pessoas sapateiam?

9 – A Moreninha (1970)
Representante brasileiro, é um raro musical, uma deliciosa, pequena joia dirigida com orçamento curto mas com a maestria de Glauco Mirko Laurelli, que inovou e ousou ao escolher para estrela uma jovenzinha, linda e já super talentosa Sonia Braga como Carolina, a primeira heroína da literatura brasileira, criada por Joaquim Manoel de Macedo. Fotografia impecável, lindas canções, elenco primoroso – Claudia Mello, Carlos Alberto Riccelli, Nilson Condè, Sonia Oiticica, locações e sets impecáveis fazem desta livre adaptação uma alegria de se ver, grande entretenimento. Sonia Braga se orgulha do musical, e declarou ”resistiu bem ao tempo”. E como!

10 – Godspell – A Esperança (1973)
Godspell, de David Greene, é o Evangelho de São Mateus com elenco desconhecido, mas encabeçado por Victor Garber – de Flash, e o capitão do Titanic – como Jesus. As canções são lindas, especialmente Day By Day e All for the Best.  A vida de Jesus é encenada numa Nova York incrivelmente deserta

11 – Hair (1979)
Um superclássico antibélico que comove com canções icônicas – Good Morning, StarshineLet the Sunshine In e I Got Life são emblemáticas dos anos 60. Coreografias com o esplendor de Twyla Tharp e direção para lá de inspirada de Milos Forman.


12 – Moulin Rouge – Amor em Vermelho
 (2001)
Moulin Rouge é um delírio musical feito com extremo bom gosto, exuberância e força  pelo cineasta Baz Luhrmann com um casal cheio de química, talento e vozes surpreendentes: Nicole Kidman e Ewan McGregor. Uma love story alucinante, embalada por Miss Marmelade e Your Song, cheio de citações e homenagens. Dizem que Nicole deveria ter ganhado o Oscar por esse filme.



13 – A Estrela!
 (1968)
A grande Julie Andrews dá um show de beleza, voz, atuação e versatilidade nesses dois musicais que tem grande peso em sua filmografia. A Estrela! é um belíssimo filme à frente de seu tempo, contando a vida de uma estrela inglesa, Gertrude Lawrence, através das décadas de 30, 40 e 50. Há cenas em sépia com Julie que retratam alguns dos eventos de importância na história, alternando com a recriação de complexos números musicais. O que dizer do requinte de produção com  joias de Cartier e 128 figurinos só para Julie – um recorde? Milhares de figurantes foram pessoalmente contratados pelo diretor Robert Wise, que genialmente quis mostrar uma outra faceta do talento de Julie.  Ela canta Cole Porter, Gershwin, Kurt Weill e brilha na coreografia de Michael Kid para Jenny, elaborado número de jazz. Um fracasso de bilheteria – o público não aceitou Julie como uma arrogante, mas adorável, estrela cheia de vícios com uma única paixão: o teatro. Mas Star!, de incompreendido e hiper criticado,  passou a ter status de cult, com uma legião de fãs que vão de Patricio Bisso a José Wilker.


14 – Vitor ou Vitória?
 (1982)
Em Vitor ou Vitória? Julie fez as pazes com o sucesso: teve indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro – o qual ganhou – assim como o David de Donatello,  como uma mulher fingindo ser um homem fingindo ser mulher. Entenderam? Não? Pois o filme é apaixonante, com diálogos brilhantes sobre sexualidade e feminismo, números musicais de tirar o fôlego – Le Jazz Hot e Crazy World e uma extraordinária Julie dominando ao lado de um elenco impecável – James Garner, Robert Preston e Lesley Ann Warren. Blake Edwards dirigiu com sua genialidade no auge e o longa deu mais um Oscar a Henry Mancini, maestro lendário amigo do casal Andrews-Edwards. Vale também a pena conhecer Darling Lili – Minha Adorável Espiã, um incandescente musical refinado ambientado na primeira guerra mundial, dirigido por Edwards, com Julie Andrews belíssima como a espiã alemã Lili e o galã Rock Hudson. O filme abre magneticamente com Julie cantando uma das mais tristes e lindas canções de Mancini, Whistling Away The Dark, indicada ao Oscar. Um fracasso de bilheteria, mas maravilhoso.


15 – Tommy
 (1975)
A brilhante ópera rock do The Who transforma-se numa  hiper delirante obra do cineasta Ken Russell, que já havia levado para o cinema o delicioso musical The Boyfriend de Julie Andrews na Broadway. Aqui o diretor escalou alguns dos maiores nomes do rock, numa sucessão de números musicais antológicos, como  Tina Turner – a Acid Queen e Elton John – cantando Pinball Wizard. Roger Daltrey, do The Who, está ótimo como Tommy, o rapaz que fica cego, surdo e mudo quando testemunha o assassinato de seu pai, Robert Powell (Jesus de Nazareth, de Zeffirelli) pelo futuro padrasto, Jack Nicholson. Roger dá um show nos números solo, como Sensation e Feel Me. Mas foi a talentosa, sexy Ann-Margret que rouba a cena como a mãe, principalmente num alucinante número fantástico com sopa de feijão, e outra com um espelho, além de exigentes cenas dramáticas, O desempenho triunfal  lhe rendeu uma merecida indicação ao Oscar de melhor atriz. Ann-Margret também participou do melhor musical de Elvis Presley, o saboroso Amor à toda Velocidade.

Waldemar Lopes é  artista plástico, engenheiro mecânico, professor, cinéfilo. Anualmente realiza em Santos uma palestra beneficente sobre o Oscar, que se tornou tradicional na cidade. Também já realizou encontros sobre cinema para a Universidade Católica de Santos, Universidade Monte Serrat, Secretaria de Cultura de Santos e Rotary. Escreve para o CineZen e o 50 Anos de Cinema. Cedeu seus acervos pessoais para exposições no Santos Film Fest – Festival Internacional de Cinema de Santos sobre Julie Andrews e Sonia Braga, atrizes das quais é o maior especialista no Brasil.

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